sexta-feira, 24 de abril de 2015

Mas uma é a minha pomba!


1. 6:9אחת היא יונתי תמתי אחת היא לאמה ברה היא ליולדתה ראוה בנות ויאשׁרוה מלכות ופילגשׁים ויהללוה׃ 2. Akhat hi yonati...
Posted by Cântico dos Cânticos on Quarta, 22 de abril de 2015

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segunda-feira, 20 de abril de 2015

Sobre o Mark

Hoje descobri uma coisa sobre meu namorado que nenhuma garota deveria descobrir



Mark era o homem dos meus sonhos. Gentil, amável e atencioso. O suficiente para deixar todas as minhas amigas com inveja. Mas hoje, uma coisa terrível aconteceu, que eu não desejaria nem ao meu pior inimigo. Descobri uma coisa sobre Mark que irá mudar para sempre minha opinião sobre ele, e que acabou de uma vez por todas com minha capacidade de confiar nos homens.
Logo após o jantar, minha melhor amiga Jessica me ligou e disse que tinha algumas novidades para me contar sobre Mark. Implorei-a para que me contasse pelo telefone, mas ela insistiu, dizendo que tinha que ser pessoalmente. Assim, nos encontramos uma hora depois na nossa cafeteria preferida, o Jitterbug Cafe, para tomar um capuccino e curtir música ao vivo com voz e violão em uma noite de sexta. No entanto, hoje à noite o som da música ao vivo com voz e violão foi substituído pelo som de lágrimas, fungadas, lenços de papel sendo tirados de pacotinhos e outros sons que indicam que algo triste está acontecendo.
Foi lá na cafeteria que Jessica me deu a má notícia: Mark é, na verdade, apenas algumas salsichas enfiadas dentro de um suéter de lã.
No começo, não consegui acreditar nas palavras que ela estava dizendo. Já tinha ouvido falar de garotas que passaram pela mesma situação, mas nunca imaginei que o mesmo fosse acontecer comigo. Mas quanto mais eu pensava, mais as pistas começavam a surgir, uma por uma: o cheiro de salsicha velha que ele tinha de vez em quando, a forma como ele sempre se recusava a falar e a sua incapacidade de andar pela casa por vontade própria.
Pedi a Jessica para que me explicasse como descobriu a verdade sobre Mark. Ela me contou que começou a ligar os pontos quando observou uma conversa por mensagens de texto entre eu e Mark. Disse que Mark não respondia a nenhuma mensagem que eu enviava. Isso porque ele é só um amontoado de salsichas velhas, e salsichas não podem mandar mensagens de texto.
E mesmo que Mark tivesse sido o craque do time de basquete da nossa escola, ninguém se lembrava de tê-lo visto participando de um jogo. Ele apenas ficava sentado na lateral da quadra, comportamento típico de uma pessoa que não é uma pessoa de verdade, mas apenas algumas salsichas genéricas dentro de um mini suéter.
Mas talvez o momento mais revelador tenha acontecido semana passada, no acampamento de Nolan, quando Mark chegou a ser confundido de verdade por um pacote de salsichas. Todos nós rimos. "Que hilário! A Rachel confundiu o Mark com um pacote de salsichas! Pega leve na bebida, Rachel!" E ainda que Rachel dê mostras de que realmente tem um problema com o álcool, foi naquela noite que Jessica finalmente descobriu a verdade sobre Mark.
É uma realidade que muitas garotas enfrentam hoje em dia: em algum lugar, alguém está tricotando pequenos suéteres de lã, enchendo-os com salsichas e os colocando em circulação como se fossem pessoas de verdade. Normalmente eles são ignorados, sem rosto em um infinito mar de pessoas. Você pode se sentar ao lado de um deles em um ônibus lotado sem nem ao menos perceber. Mas às vezes, eles são paquerados por garotas jovens e vulneráveis, cujo único erro é estar em busca de amor num mundo tão frio como esse.
Achei de verdade que ia me casar com Mark, e que ele seria o cara. Meus amigos se davam bem com ele, e minha família o aprovou. Nunca pensei que ele fosse fazer isso comigo: revelar que era só algumas salsichas enfiadas em um suéter de bebê. Mas acho que se teve alguma coisa que aprendi com todo esse sofrimento, é que nem todos são aquilo que você imagina que são.











E eu com isso, Phebo?



E eu com isso, Phebo? 
Sobre uma ode de Odílio



Desfraldaram inúmeras bandeiras retalhadas, cobertas de poeira e musgo, desbotadas,
carregadas trôpegas pelas mãos cobertas luvas de couro, quando as tropas se aproximaram
munidas de toda espécie de armas, criadas especialmente para dispersar multidões.
Alessandra tropeçava enquanto corria vestida de seu skin-jeans verde, manchado pelos jatos
de espuma catalisada especialmente para esse tipo de evento. Como valquírias de Wagner
apossadas da fúria de Fenris, em meio ao Ragnarok de Edda.
Como novas filhas de Peneu a fugirem de velhos Phebos.
Couraças em riste, tacapes hightec descarregando faíscas invisíveis
de uma tensão crescente querendo cessar a tensão reinante, em vão. Pois transpassavam, os
outros estudantes, pintados de verde-amarelo, toscas barricadas improvisadas pelas forças
policiais nos limites que separavam o Congresso Nacional da multidão. O céu se iluminava
com riscas avermelhadas, criadas pelos tiros de morteiros e pelos fogos que tornavam a cena
uma pintura renascentista de Guerra e Paz de Liev Tostói. Adidos do curso de Literatura
atiravam sacos de tinta verde e amarela a esmo, salpicavam os escudos dos policiais que
retrocediam a coluna armada, enquanto os estudantes cantavam em coro com desdém:

- Não sabes de quem foges, por isso, insana, foges. Sou senhor de Delfos e de Claros, de
Tenedo e Pátara. Júpiter é meu pai; o futuro, o passado e o presente desvelo!

Já não havia muito que ser feito, pois afluíram de todos os pontos do país, jovens com um
único objetivo, tomar a força ao congresso nacional. Não que disso se soubesse algo, nos dias
em que intermináveis caravanas cercavam a capital, obstruindo avenidas, acampando-se sobre
gramados e até em meio das ruas. Trouxeram, por medida de segurança, tropas destacadas de
Goiânia e de Mato grosso do Sul, pousaram seis jatos carregados no aeroporto civil de Brasília,
mas não havia uma guerra, não havia uma invasão estrangeira. Mas havia uma indisfarçada
determinação nos rostos quase que flamejantes de quase dois milhões de adolescentes,
munidos de milhares de cartazes, divididos em centenas de grupos que serpenteavam
aparentemente sem rumo pela capital até que em dado instante se enfileiraram como colunas
de uma centúria romana e ficaram dispostos em completo silencio. Um murmúrio da multidão
interrompia a cena, os literatos, como seriam posteriormente chamados gritavam palavras
cortantes:

- Plantaram no jardim de Delphos, ervas de sabores mortos, essas árvores de Claros, vinhas de
arrogância entre as flores da Tenedo! Surgiram as ervas do roubo, brotaram os frutos de
Pátara! Eis que jardim tornou-se mausoléu e quem dele cuidava, fantasmas! Avante filhos do
amanhã, porque chegada é a noite, de arrancar as ervas e renovar as suas sementes!

Na porta do senado o velho segurança olhava aterrorizado à multidão que gritava. Em dado
instante ouviu sibilante, distante, mas límpida a misteriosa frase:

- Vós sabeis com quem lutais, por isso, insanos, lutais. São eles senhores de Delfos e de Claros,
de Tenedo e Pátara. A Júpiter chamam de pai; o futuro, o passado e o presente desvelam!

Os céus se romperam com os gritos e até os mais corajosos soldados, vestidos de armaduras
especiais, naquela noite, conheceram o medo.
As manifestações tomaram conta do país seis dias antes das eleições para presidente. As
campanhas políticas estavam indo de vento-em-popa, o país seguia com algumas crises
partidárias e os escândalos de sempre, incluindo novas revelações sobre conduta anti-ética de
duas pessoas próximas a um dos principais candidatos daquele ano.
Até que as imagens da truculência impetrada sobre um grupo de vinte e dois adolescentes do
colégio Pedro Segundo foram divulgadas em centenas de vídeos pelas redes sociais do país. O
que era uma pacífica manifestação, com pequenos cartazes pintados à mão, transformou-se
numa guerra urbana na Central do Brasil. Os noticiários não deram a devida importância ao
evento, mas a cena em que uma das meninas era puxada pelo longo rabo de cavalo e jogada
no chão por um policial, absolutamente despreparado para lidar com a situação, foi revisitada
milhões de vezes nos três últimos dias.
Alessandra da Matta Cruz e Serra era a moça que agora ia à frente da multidão, com os
cabelos soltos e pintados de azul, o rosto com uma tintura branca, hasteando uma velha
bandeira que pertencera a seu bisavô e que um dia estivera estendido na residência de Dom
Pedro Segundo, conforme seu as velhas lendas e histórias recontadas de geração em geração,
sobre a amizade que seu bisavô tinha granjeado com o antigo regente. Por isso a bandeira
tinha aquela aparência tão velha, tão cheia de manchas. Fora testemunha dos tempos do
império e agora tremulava em sua derradeira missão.
Coronel Leopoldo Guimarães, capacitado homem a frente das forças de contenção diante do
Congresso, ouviu claramente o rompante extremo:

- Aqui habitam eles, Senhores de Delfos e de Claros, de Tenedo e Pátara. Que a Júpiter
chamam de pai; que ao futuro, o passado e o presente desvelam!
Não passareis!

Jatos de água bruta dispersavam a multidão, inutilmente, a massa de jovens gritando não se
importava e as ordens para evitar o confronto e a violência diante de milhões de celulares
filmando cada cena e pelo menos sete grandes cadeias televisivas presentes, disciplinavam
atitudes.
E além do mais, era uma multidão composta de jovens e de adolescentes. Entretanto, as
ordens, antes vagas, tornaram-se austeras e tirânicas. Não poderiam entrar, ainda mais porque
aquela era a hora de uma sessão extraordinária. Tomados de surpresa, se encontravam
duzentos e doze deputados, cercados, sem ter ideia do que iria acontecer. Os eixos
monumentais estavam travados de fortes barricadas policiais. Contudo, havia pelo menos um
milhão de adolescentes na praça dos Três Poderes, fora numero incontável destes nos
gramados à frente do Congresso.
Havia alguns equipamentos de som de potencia aparentemente ilimitada, espalhados e
camuflados. Quarenta carros modificados com sistemas de som auto-motivo que deveriam
concorrer em feiras de som nacionais, interligadas por uma rede de operadores camuflados e
com microfones dispersos, com tamanha sensibilidade que a respiração dos líderes rugia como
o Niágara em dia de enchente...
Mas, o que mais irritava era que os microfones iam de boca em boca,
e tinham combinado que falariam em trechos literários, em aforismos e palavras tão
anacrônicas que era difícil sua compreensão.
E o pior era ter que ouvir Ovídio, o velho poeta
romano.
O velho verso de Metamorphose sendo propositalmente metamorfoseado a cada
nova comunicação.
Então se curvaram todos.
O ruído de microfonia encheu o ar enquanto dois milhões de jovens abaixavam-se
reverentemente. Menos uma jovem. A trezentos metros do Congresso uma bandeira velha
tremulava nas mãos enluvadas de Alessandra.
E só ela restava de pé. Sua voz soava como um
lamento, mas o verso podia ser ouvido até nos corredores mais internos do Congresso:

- Senhores de Delfos e de Claros, de Tenedo e Pátara. Trago para vós uma novidade. Vosso pai,
Júpiter, mandou-nos avisar-vos. Já não sois mais senhores. Hoje, vos tomamos Delfos e Claros,
Tenedo e Pátara. E a filha de Peneu mandou vos dizer:

- E eu com isso, Phebo?

E dito isso, levantaram três milhões de cabeças. E numa correria desenfreada tomaram ao
Congresso Nacional. As eleições foram atrasadas porque as negociações para retirar os jovens,
munidos de sanduiches, levaram alguns dias. Os duzentos e doze deputados saíram nus,
pintados de verde e amarelo, na manhã seguinte. O amanhã havia começado mais cedo que se
supunha para a pátria brasileira.

Welington Corporation