segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Sobre a esperança






Perder a esperança é quase um sinônimo de desistir. E desistir só tem valor quando o que se busca não tem nenhum valor. Desistir de se drogar, desistir de querer morrer, desistir de corromper, desistir de fazer o mal. Nesses poucos casos desistir é começar a viver. Mas, no que diz respeito a sonhos humanos que não se traduzem em sombra e quanto aspirações que valham a pena ser sonhadas, ter esperança é ter o poder de continuar em meio à chuva, de não ligar para as feridas e desdenhar da dor. A esperança é capaz de transigir da perda, é capaz de fortalecer o coração cansado. Ela abraça o homem no meio do caminho e o empurra em direção ao alvo. A esperança dá sua mão em casamento, sussurra palavras apaixonantes nos nossos ouvidos e é capaz de fazer sorrir mesmo quando há dor no coração. De tudo que há na terra, nada é maior para conceder esperança que um evangelho cheio dela. O evangelho grita esperança em meio aos escombros das guerras, em meio a destruição de famílias, em meio aos túmulos, junto dos leitos dos enfermos, junto a porta dos corações dos que vivem em solidão. O evangelho da esperança é cheio de surpresas, quais promessas maravilhosíssimas, tais como a presença permanente do próprio Cristo nos dias, nas noites, perto, ao longo e ao redor daqueles que nele crerem. Traduzindo esperança de ver e ser tocado por anjos.

Os anjos são em si mesmos esperança feito espírito, porque trazem em seus corpos a figura de um amanhã na eternidade futura, porque transcendem tudo o que nos amedronta, porque anunciam que o universo possui dono, senhor e rei.  Quando Maria é assombrada por Gabriel, faz parte das milhares de meninas que viveram crendo na possibilidade de que uma delas fosse, um dia,  mãe do maior de todos, do libertador, do valente, do maravilhoso, do príncipe da paz, a venturosa mãe do Messias prometido. E se um anjo aparece a uma menina, que a vida toda orou para que seu povo fosse liberto, é porque a esperança havia trazido as taças do mais puro vinho para brindar a alegria da promessa realizada. O evangelho da esperança fala de promessas cumpridas e de promessas que certamente haverão de se cumprir. O mesmo anjo de nome Gabriel vai anunciar esperança a um velho sacerdote... que ri.  A resposta que o anjo dá é o da esperança irada... O anjo diz que não anuncia mentiras... que a esperança que trás vai se cumprir... e Zacarias emudece até que reconheça que os céus anunciam coisas reais, que a esperança do evangelho é maior do que toda a desesperança humana, que o fruto das promessas tem gosto e são aprazíveis a alma, não importa a fome que agora sintamos, haveremos de prová-los!

O evangelho explode esperança, ele anuncia o impossível e trás da tumba o morto torturado e rejeitado, para viver acima de todos e senhor de todos eternamente, porque a esperança abre caminho em meio às trevas. A esperança chama e anuncia o nome de coisas que ainda não nasceram, apaixonadamente.


A esperança assalta, amarra, une, assombra, pertuba. No mundo dos afetos transtornados, no mundo das decepções cada vez maiores. A esperança grita promessas do evangelho. “vinde a mim os que estais cansados e oprimidos e os aliviarei!!!!” “pedi e dar-se-vos-á!” “batei e a porta será aberta!” Que ousadia é essa de um Pai que ama, declarar responder com graça, repetir que ama dar dádivas, que anseia, do verbo ansiar, responder desejos e clamores de nossos corações! 
E que não impõe limites a grandeza dos sonhos, a dificuldade da concretização, esperança que não anuncia impossíveis, que não aponta NUNCA para a parede do irrealizável, do perdido, do destruído, do inalcançável. Simplesmente aponta o dedo em direção aos céus, céus que lhe pertencem, céus aonde habita e grita: “batei!”

Quem não entendeu o alcance dessa promessa, dentre as muitas do evangelho, que leia TUDO! Afetos destruídos, lares despedaçados, rins que não existem mais, ossos enfraquecidos, corações sem esperança, vidas sem direção.

O evangelho anuncia o inacreditável de receber o que se perdeu, vivenciar a plenitude daquilo que a irmã chamada FÉ pode conceder.

O evangelho anuncia que as mãos do Deus que tudo pode, estão estendidas em direção a esperança de nossos corações.

O evangelho transborda de possibilidades, e de cânticos de livramento, de vitória, de vida, de benção, de alegria e de paz.

Porque nele a esperança usa vestes de uma noiva ansiosa por ser levada ao altar, a esperança se reveste do brilho que os olhos do amado quando a jovem enamorada se apresenta diante de seu amor.  

 Porque o evangelho possui o poder de realizar o que a esperança manifesta em toda sua glória, é capaz de anunciar.


A esperança grita no evangelho, para que nós nos levantemos do chão. E o evangelho cheio de plena esperança não conhece outra posição do homem diante de Deus, mais formidável do que essa. De pé. 
Porque homens sem esperança são homens caídos.
E somente homens cheios de esperança
podem correr livres
diante da face
do Senhor.




Welington José Ferreira




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