- Mantenham a aparência calma. Relaxem. Nada de pânico.
Acabe estava nervoso. O Rei sírio, havia enviado seu maior general de guerra até Israel. Ali estava ele no palácio.
- Vamos todos morrer!
Gritava Ali Abu, o damasceno da superintendência de estradas reais. Amordacem-no! O damasceno foi amarrado e amordaçado, até passar a crise. Acabe se dirigiu magnânimamente vestido até o trono. Sentou-se e esboçou um sorriso. Como era feio o homem Apesar de herói de guerra o general sírio estava leproso. Nem nariz tinha mais. Tinha que parecer cortês.
- Shaloom, Naamã! Que bons ventos o trazem aqui, ao meu humilde reino?
Naamã olhou fixamente para o rei Acabe enquanto estendia-lhe a mão sem um dos dedos e entregava-lhe um rolo escrito em siríaco. O rei pediu um momento ao general e se retirou com seus oficiais para a sala de reuniões reais. O tradutor real rapidamente traduziu a carta que dizia:
" Que a graça de Rimon, O Deus sanguinário, esteja sobre ti Ó, Acabe. Estou O te enviando meu servo leproso para que o devolvas curado. Tenho certeza que você não vai me desapontar. Saudações em Rimon.
Do Senhor todo-poderoso Rei de muitos reinos e dono do maior de todos os exércitos da terra,
Sua Magnificência o augusto Rei da Síria."
Acabe parecia uma vela.
- Como é que é?
Pediram para que relessem a carta. Acabe então começou a rasgar as suas caras vestes reais:
- Esse sujeito ficou louco! Eu tenho cara de Deus agora? Esse lugar aqui parece uma habitação celestial? Alguém por aí me viu cavalgando as nuvens e despejando raios? Está escrito em algum lugar, que eu como rei, também sou investido de poderes sobrenaturais? Sou todo-poderoso? Fui eu que criei a vida ou a enfermidade? Alguém ai pode me responder? Isso é um absurdo! Não quer ele também que eu conceda vida eterna logo para todo seu reino? O que ele quer, na verdade, é a minha cabeça!
O damasceno se arrastava pelo chão tentando balbuciar algum a coisa. Quando um eunuco o coloca dentro de um saco. A notícia se espalhou. Lá fora um profeta chamado Eliseu escutou o caso. Mandou Geazi, seu quase-sempre-fiel-servo até o palácio para que dissesse ao rei:
- Envia o moribundo, digo, o leproso, digo, o general doente até a casa de Eliseu. Não sei se você sabe, mas, ainda há profetas em Judá, digo, Israel.
A imensa comitiva então deixou o palácio. Junto de Naamã seu fiel servo, Aquibusanã lhe falava:
- Ó nobre e ousado entre os grandes, poderoso nas batalhas, homem de coragem indelével, cujas façanhas...
- Fala logo, Aquibusanã...
- Meu glorioso senhor... Tens certeza do que fazes? Bem te falei eu que essa raça hebraica de nada vale. Nada vale, comparada aos lauréis de tua intensa glória que se estende como uma rede armada sobre...
- Aquibusanã!
Perdoe-me, Ó venerável. Mas, devemos ser realistas, onde já se viu em algum lugar um leproso nas tuas condições ser curado... Embora isso em nada diminua tua coragem, hoje disseminada entre as inúmeras gerações de soldados que...
- .Aquibusanã!
- Perdoe-me meu senhor. Lembra-te que já procuro tua cura junto contigo a muitos anos caminhando por muitos e incontáveis reinos que se estendem pela vastidão e por caminhos desconhecidos que poucos tiveram ...
- Aquibusanã!
- Nada mais falarei, ó tu por quem meu coração anseia servir com...
- Aquibusanã!
- De todo me calarei agora, e tu me verás mudo como os...
- Aquibusanã, ou você fica quieto ou te entrego aos crocodilos reais depois de serdes pisado pelos elefantes e comido pelos leões.
Parou toda a comitiva à frente da casa do profeta.
- Meu senhor, que lugar indigno de tua presença, do pó que sai dos teus pés enquanto tu caminhas por todas as tuas batalhas sempre vitorioso e...
- Aquibusanã!
Geazi saiu para falar com o general.
- Não desce do cavalo não. Não precisa nem entrar. O negócio é o seguinte: Conhece aquele rio, o Jordão? Pois é. Atira-te sete vezes às suas águas e ficarás curado. Passar bem.
E dizendo isso, foi-se.
A imensa comitiva ficou em silencio na frente da casa do profeta. Aquibusanã reclamou na hora:
- Mas que ousadia! Sequer tiveram a polidez de convidar toda a gloriosa comitiva a entrar nesse casebre! Que ultraje.
Naamã ficou furioso. Nunca em toda sua vida fora tão destratado. O tal rio Jordão era um rio lamacento e sujo,
- Pensava eu que o tal sairia de da sua casa, viria e imporia suas mãos sobre mim e invocaria o nome de seu Deus e pronto! Mas eu, grande general, me atirar naquele riozinho safado? Vamos embora deste lugar!
Aquibusanã e os oficiais tentaram persuadir a Naamã a não ir embora.
- Veja bem...Senhor. Se o profeta tivesse te pedido para escalardes o monte Hermon com, os braços amarrados e carregando toda tua armadura, não o tentarias? Se tivesse te pedido para enfrentardes sozinho a fúria de 200 inimigos tu não o farias? Se tivesses que agüentar por mil noites o Aquibusanã
falando sobre assuntos gerais (Naamã estremece) tu não o farias? Então? Que custa tentar?
Naamã decide arriscar. Toda a comitiva para as margens do lamacento Jordão. Naamã tira suas roupas de oficial suas armas de guerra. Deixa a mostra as terríveis cicatrizes e manchas espalhadas por todo o corpo. Parece ter saído de um incêndio. Aquibusanã pergunta:
- Ó glorioso, queres tu, que toquem, para ti, tua marcha solene enquanto tu bravamente te atiras a estas águas...
Naamã não escuta a Aquibusanã. Mergulha a primeira, a segunda, a terceira e nada acontece. Novamente se
Atira às águas, pela quarta, a quinta e a sexta vez. Então desiste.
- Palhaço. Fizeram-me de palhaço.
Aquibusanã grita para. Naamã:
- Falta uma vez, ó glorioso! Uma vez!
Naamã está cheio de lama nos ouvidos. Já não escuta direito.
- Uma vez mais! Falta uma vez! Grita Aquibusanã enquanto pula e gesticula. Aquibusanã se atira dentro d'água.
Então Naamã entende. E mergulha mais uma vez. Quando se levanta, sua pele está transformada. Não está manchada. Não está marcada. O dedo que não existia mais, ele assombrado, agora o movia. Já não é mais um leproso.
Está curado. Toda a comitiva volta para agradecer ao profeta Eliseu. Naamã se ajoelha diante do profeta.
- Ao teu Deus eu quero servir. Que Ele tenha misericórdia de mim, quando por motivos de convocação.
real tiver que me ajoelhar diante de outro qualquer... Toma para ti presentes, por favor.
Eliseu diz que nada quer. Então a comitiva se levanta e se vai. Por todo Israel ecoa a notícia. Até mesmo no palácio. O rei ficou tão contente que mandou retirar o damasceno de dentro do saco.
Quando Naamã voltou, milhares de pessoas o esperavam. Por toda sua vida ele seria um milagre. O único homem curado de lepra conhecido em toda a história. E assim seria, o único homem curado de lepra, por mais de setecentos anos. Até o dia em que um outro profeta foi até o mesmo rio Jordão. Vestido de pele de camelo. No mesmo rio lamacento. Convocou as multidões que se arrependessem de seus pecados porque era chegada a hora do juízo de Deus. Milhares de pessoas atenderam a convocação deste profeta que batizava pessoas nas mesmas águas barrentas. Ele se chamava João. No meio da multidão um jovem que julgavam ter quase trinta anos solicitou ser batizado. João se espantou. Era seu primo, que até onde se lembrava, não tinha do que se arrepender.
Seu nome era Jesus. Chamado o Cristo.
II Reis 5
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