terça-feira, 22 de setembro de 2009

Sonho e Guerra - Sobre Administração Publica


E sonharam sonhos outrora. E esses sonhos se traduziram em conquistas hoje, cujos recursos adquiridos apontam para uma finalização no amanhã.
Entretanto não há sonho que se realize sem guerra. Mesmo que aconteça em tempo de paz. Todo sonho necessita substancialmente de luta. Porque sonhos só se tornam realidade com luta. Mesmo aqueles que nasceram em guerras travadas antes que nascêssemos.





E nesta composição sonho-guerra, penso que as forças opressoras sobre as quais avança um exército - em uma determinada campanha pela conquista do sonho - não  traduzem o pior inimigo que tal exército poderia vir um dia a enfrentar para a realização deste sonho. O verdadeiro pesadelo na terra para este hipotético exército-que-luta-pelo-sonho é ter a infelicidade de lutar ao mesmo tempo contra um inimigo externo e contra ferrenha oposição interna.
Não há ponte que se construa sobre projetos não definidos, porque uma equipe não consolidou uma mesma visão. Não há administração que resista a interesses conflitantes. Não há administração de projeto público que seja viabilizado com intransigência aos seus gestores. 




O administrador público possui limitados recursos para aquisição de bens e serviços para levar a término um cronograma apertado, sofrendo irremediável oposição de vários grupos.
Componentes políticos sempre geram grupos contrários a uma obra, fruto de determinada gestão, por vivemos uma dimensão política em que a base dos discursos é imprimir uma dialética de indignação, independente do grau de justiça ou equidade do discurso pronunciado. 




Não importando a importância ou a necessidade ou a urgência do bem publico, porque se este for objeto do OUTRO grupo, qualquer que seja este OUTRO grupo. Sua imagem deve ser atacada naquilo que é visível aos olhos da comunidade. 




Na verdade, diagnostica-se uma doença do sistema humano no qual nascemos, vivemos e morreremos- se não o transformamos a tempo - a tal reafirmação da velha prática do “denegrindo aquém é que se promove outrem”.
A mal-amada política, entretanto, não é a única instituição que coaduna com tal conceito.
O interesse pessoal, a tendência humana a autopromoção, a perspectiva do aparente risco de que se o OUTRO faz, nós somos obscurecidos e perdemos a evidencia, faz com que a vida imite a arte.
Uma vida sem sentido, imitando uma arte deplorável. 





Na guerra (porque SEMPRE é uma guerra) dos recursos limitados, o administrador – essa figura incompreendida, vulgo gestor, não possui recursos humanos que lhe concedam ver tudo o que é preciso, planejar todas as fases do empreendimento, impedir que algo fuja do controle. Trabalha no limite dos seus recursos humanos, movido pela idoneidade, pela meta abraçada, o projeto que anseiam terminar. Porque projetos inacabados tornam a vida inacabada. Declaram ao mundo a possibilidade de um bem maior, que poderia ter nascido e que não ocorreu. Uma ponte que não termina não serve para coisa alguma.
Todos os recursos governamentais, particulares, possuem um prazo para aplicação e como foco um grupo de pessoas as quais se pretende beneficiar assim como um estado de coisas, econômicas e sociais que permitiram que aquilo pudesse ser realizado naquele instante. Algumas vezes gerações inteiras ansiarão ver algo para o qual não possuirão  recursos para realizá-lo.
Determinados projetos levam várias décadas para aquisição dos recursos necessários. Projetos que se iniciaram no coração de um aluno, e só poderão ser terminados quando este aluno se tornar Diretor. 




Aqueles que realizam as obras, que abraçaram amorosamente um projeto são também limitados quanto à sua humanidade. Quanto à sua fragilidade humana. A construção projetada pode ser de concreto armado, mas quem luta para que ela alcance êxito é constituído de um conjunto de carne e ossos, fibras e sangue, respiração e suor. E de dor. 




    As obras são isso, o fruto de muitos sonhos, de milhares de pessoas.
    Dessas feitas de fibras e sangue.
O administrador é só o homem a quem foi delegado o encargo de gerenciar a execução de algo que começou num projeto feito por muitas mãos.
Portanto, não permita que a sua mão destrua por seus interesses pessoais os recursos que foram legados pelas gerações anteriores.
Os recursos limitados que a humanidade dispõe, cimento e cal, ferro e areia, brita e tijolo, ferro e argamassa, terminam amanhã.
E o amanhã é logo ali.
Quando você que imita a arte deplorável por querer que a luz dos holofotes desvie-se da respiração e suor alheios para que recaiam sobre você, que nesse dado projeto somente respira, saiba que na verdade, ajudou a impedir o sonho, de amarrar a vida, de impedir o bem.
    São muitas as denúncias vazias, os gritos de orgulho, as vozes da desarmonia, as maquinações e guerras de vaidade.
Eia! Todos esses componentes - não importa que força que nos dirija os passos - destruirá o futuro dos nossos filhos e netos.
Porque não existe investida sobre um projeto social que não gaste nossos recursos limitados. Se você não apóia o gestor que recebeu um projeto em sua equipe de trabalho, você contribuirá para a manutenção da pobreza que teve início no início da civilização.
Todas as conquistas humanas dependem de mãos que sustentem amparem, fortaleçam e combatam em conjunto pela sustentação de projetos nas mãos dos gestores operacionais.  Nas mãos dos conselheiros. Nas mãos dos estrategistas. Nas mãos dos projetistas. Nas mãos dos executores.
   



 A denúncia de má qualidade inexistente, ou a tentativa (tosca) de paralisar o processo pela vaidade de não ter participado de sua elaboração, por não ter sido consultado pela equipe que hoje o conduz, são atos de sabotagem da história humana.
    História que se iniciou no sonho, que continuou na captação de recursos, que se estabeleceu num acordo, num contrato celebrado, numa lei de incentivo, numa janela de oportunidade.
    Janela que poderá não existir no ano seguinte.
    Nós não temos o direito sobre os sonhos sonhados por outros corações. Não há legitimidade em impedir a mão que hoje luta para terminar aquilo que outro coração um dia ensejou. Porque todas as estruturas e obras humanas foram um dia somente sonhos.
    O dinheiro que o mal-administrador desviou do sonho de um homem, para seus próprios sonhos egoístas, tirando os recursos do bem da comunidade, para seu depósito particular, se traduzirá, a longo prazo no fim de todas as coisas. Pelo menos em todas as coisas pelas quais vale a pena viver.
Cada vez que você apóia os projetos, lutando para que haja vitória, haja um final, para que haja a completação do imaginado, do sonhado, do projetado, você age como se fizesse parte do sonho.




Suas mãos carregam as esperanças, aspirações e a alegria contagiante ainda não manifesta daqueles que receberão o bem.
A vaidade não pode divisar a esperança, porque lhe é estranha. 




Não há alegria a ser partilhada por quem não ama o bem que pode ser consumado.
Porque lutou indignamente para que este não acontecesse.
Porque lutou inconsequentemente para se auto-promover, ainda que isso custasse impedir o sonho sonhado.
Assuma os riscos impressionantes de se tornar participante do amanhã, sem se importar com efemeridade de um modelo político falido, e a glória passageira que tal modelo concederia, permitindo e incentivando, se for o caso, lutando ao lado daqueles que hoje lutam para que os recursos colocados à sua disposição não sejam tornados um projeto inacabado.
Um sonho que não vingou.
    Porque um dia os sonhos não vingados irão se voltar contra nós.
    E nessa guerra derradeira não haverão vencedores.
    Só pontes inacabadas. 






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