quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Páscoa - Quando perderam a Jesus.

PASSACH Celebração da Pessach na época do Segundo Templo
Pessach caracterizava-se por ser uma das três festas de peregrinação ao Templo de Jerusalém. Um mês antes da festividade , Jerusalém tinha suas estradas reformadas e poços restabelecidos para garantir o conforto dos peregrinos. Geralmente todos aqueles que distanciavam trinta dias de jornada de Jerusalém vinham para as festividades, o que aumentava a população de cerca de 50 mil para cerca de três milhões. Estes peregrinos geralmente hospedavam-se na cidade e cidades vizinhas, acampando ou em casa de conhecidos. Em 14 de Abib [= primavera, mês assim chamado pela Torah que corresponde ao primeiro mês do ano, comumente chamado de Nissan], pela manhã, o chametz (alimento fermentado) era eliminado e os sacerdotes do Templo preparavam-se para Pessach. O trabalho secular encerrava-se ao meio-dia e iniciavam-se os sacrifícios às quinze horas. A oferenda de Pessach constituía-se de cordeiros ou cabritos, machos, de um ano de idade, e abatidos pela família (era permitido um cordeiro por família) em qualquer lugar no pátio do Templo. O shochet [açogueiro ritual] efetuava o abate, e o sangue era recolhido pelos cohanim [sacerdotes] em recipientes de prata e ouro, que passavam de um para outro até o cohen próximo ao altar, que derramava o sangue na base do mesmo. O recipiente vazio depois retornava para novo uso. Estes recipientes não podiam possuir fundo plano par evitar a coagulação do sangue. Em seguida, o animal era pendurado e esfolado, e, aberto, tinha suas entranhas limpas de todo e qualquer excremento. A gordura das entranhas, o lóbulo do fígado, os dois rins com a gordura sobre estes e a cauda até a costela eram retirados e colocados em um recipiente, salgados e queimados sobre o altar. As oferendas de Pessach eram feitas em três grupos, cada um tinha, no mínimo, trinta homens. O primeiro grupo deveria entrar e quando o pátio do Templo estivesse cheio, os portões eram fechados. Os levitas entoavam o Halel [salmos 113-118] e repetiam-no (se necessário) até que todos houvessem sacrificado seus animais. A cada vez que o Halel era entoado, os cohanim tocavam três toques de shofar [trombeta de chifre de carneiro]: Tekiá, Teruá e Tekiá. Após a oferenda queimada das partes do sacrifício, os portões eram abertos, o primeiro grupo saia, e entrava o segundo e iniciava-se novamente o processo. E assim com o terceiro grupo. Após todos terem saído, lavava-se o pátio da sujeira que ali acumulara. Um duto de água atravessava o pátio do Templo e havia um lugar por onde ele saía. Quando queria se lavar o chão, era fechada a saída e a água transbordava inundando o recinto. Depois, abria-se a saída e a água saia com todas as sujeiras acumuladas, ficando o chão completamente limpo. Deixando o templo, cada família carregava seu animal sacrificado e o assava, fazendo em suas casas uma ceia festiva, onde todos se vestiam de branco. Esta ceia seguia os princípios do atual sêder de Pessah, com exceção da inclusão do cordeiro pascal. Após a ceia, muitos iam para as ruas festejar, enquanto outros iam para o Templo, que abria suas portas à meia-noite .
Com a destruição do Segundo Templo,
A impossibilidade de haver um local de reunião e sacrifício, impossibilitou a continuação dos sacrifícios de cordeiros. Inicia-se então a transformação de Pessach em uma noite de lembranças, sem o sacrifício pascal. Pessach é hoje uma festa central do Judaísmo e serve como uma conexão entre o povo judeu e sua história. Antes do ínicio da festa, os judeus removem todos os alimentos fermentados (chamados chametz) de seus lares e os queimam. Não é permitido permanecer com chametz durante a Pessach. Os objetos de chametz são escondidos, e, outros, passíveis de um processo de casherização [purificação] são mantidos; os utilizados para cozinhar passam pelo fogo, e os de comidas frias passam pela água. É proibido realizar qualquer trabalho depois de meio-dia de 14 de Nissan, ainda que um judeu possa permitir que um goy [não judeu] realize este trabalho. A festa de Pessach é antes de tudo uma festa familiar, onde nas primeiras duas noites (somente na primeira em Israel) é realizado um jantar especial chamado de Sêder de Pessach. Desta refeição somente devem participar judeus e gentios convertidos ao judaísmo. Neste sêder a história do Êxodo do Egito é narrada, e se faz as leituras das bênçãos, das histórias da Hagadá, de parábolas e canções judaicas. Durante a refeição, come-se pão ázimo e ervas amargas, e utiliza-se roupa de sair para lembrar-se do "sair apressado da terra do Egito". Kadesh (קדש - santificação): Recitação do kidush [oração da consagração do dia do sábado ou dia de festa, quando o chefe de família, com o copo de vinho na mão, dá graças pela criação e a libertação do Êxodo] e a ingestão do primeiro copo de vinho. Urchatz (ורחץ - lavagem): Lavagem de mãos. Karpas (כרפס): Mergulha-se karpas (batata, ou outro vegetal), em água salgada. Recita-se a bênção e a karpas é comida em lembrança às lágrimas do sofrimento do povo de Israel. Yachatz (יחץ - divisão da matzá):A matzá [pão ázimo] é partida ao meio e embrulha-se o pedaço maior e separando-o de lado para o Afikoman Maguid (מגיד - conto): Afikoman refere-se à matzá escondida em Yachatz, comida ao final da refeição. Conta-se a história do êxodo do Egito e sobre a instituição de Pessach. Inclui a recitação das "Quatro perguntas" e bebe-se o segundo copo de vinho. Rachatzá (רחצה - lavagem): Segunda lavagem de mãos. Motzi Matzá (מוציא מצה): O chefe da casa ergue os três pedaços de matzá e faz as bênçãos das matzot. As matzot são partidas e distribuídas. Maror (מרור -raiz forte): São comidas as raízes fortes, relembrando a escravidão e o sofrimento dos judeus no Egito. Korech (כורך -sanduíche): Faz-se um sanduíche com a matzá, maror [amargo] e charosset [mistura de macãs, nozes, amêndoas, tâmaras ou passas trituradas, cuja cor lembra a do barro do qual eram obrigados os israelitas a fazer tijolos . Shulchan Orech (שולחן עורך): É realizada a refeição festiva. Tzafon (צפון - escondido): Aqui é comida a matzá que havia sido guardada. Barech (ברך - Bircat HaMazon): É recitada a bênção após as refeições. Bebe-se o terceiro copo de vinho. Halel (הלל -louvor): Salmos e cânticos são recitados. Bebe-se o quarto copo de vinho. Nirtza (נירצה - ser aceito): Alguns cânticos são entoados e têm-se o costume de finalizar o jantar com os votos de LeShaná HaBa'á B'Yerushalaim - "Ano que vem em Jerusalém" como afirmação de confiança na redenção final do povo judeu. (Todas as ch equivalem ao j espanhol).
CHAG MATZOT :
(festa dos pães ázimos) é o nome dado aos sete dias de comemoração após Pessach. De acordo com a Torá é proibido ingerir chametz durante este período. Sete dias você comerá matzot, mas no primeiro dia manterá a levedura fora de sua casa; porque aquele que comer pão fermentado será cortado do povo de Israel. O primeiro dia será uma festa, e o sétimo dia será uma festa; nenhuma forma de trabalho será feita, exceto o trabalho que gera alimentação. Observe este dia de uma geração em geração para sempre. No décimo quarto dia do primeiro mês ao por do sol comerás pão sem levedura, até o vigésimo primeiro dia do mês à noite (Êxodo, 12: 14-18). E Moisés disse ao povo: Lembre-se deste dia no qual saiu do Egito, da escravidão; pois por força de sua mão, Deus te tirou daquele lugar, e nenhum pão fermentado será comido. Você está se libertando neste dia do mês de Abib. Assim, quando Deus o levar para a terra dos Canaanitas, dos Hititas, dos Amoritas, dos Hivitas, e dos Jebuseus, que Ele jurou a seus pais lhes dar, uma terra onde flui o leite e o mel, você manterá este serviço neste mês. Sete dias você comerá pão sem levedura, e no sétimo dia será uma festa de homenagem a Deus. ( Êxodo 12, 3-6).
CURIOSIDADES:É costume se estudar as leis referentes a Pessach trinta dias antes da festividade. Em Israel, é fornecida farinha e outras necessidades aos pobres para que nada lhes falte em Pessach. O dinheiro para estas necessidades é originado de um imposto à comunidade. Os primogênitos devem jejuar na véspera do Seder para relembrar a salvação dos primogênitos das pragas do Egito. As sinagogas costumam executar um Sium Massechet (término de estudo de uma Guemara), onde o primogênito que presencie o Sium não precise realizar o jejum. Os judeus caraítas [judeus que não admitem o Talmud] defendem que a palavra Pessach seja utilizada apenas em referência ao sacrifício, e não à festividade de Chag haMatzot. Os judeus samaritanos que defendem a santidade do monte Garizim, continuam realizando os sacrifícios pertinentes à Pessach até os dias de hoje. Como não é economicamente viável jogar fora vários chametz [alimentos fermentados], como por exemplo bebidas alcoólicas derivadas de cereais e de alto valor, como whisky, existe uma forma tradicional de venda do chametz, a Shetar harshaá.
OS DOZE ANOS: Quando pois, sucedeu os doze anos (sic), subindo eles a Jerusalém seguindo o costume da festa, (42) e completados os dias, ao voltarem eles, permaneceu Jesus, o filho, em Jerusalém e não conheceu Josef e a mãe dele (43). Consummatisque diebus cum redirent remansit puer Iesus in Hierusalem et non cognoverunt parentes eius and fulfilling the days, in their returning, the boy Jesus stayed in Jerusalem. And Joseph and His mother did not know. DOZE ANOS: Embora a idade era dos 13 anos após o (בר מצוה) [lido de esquerda para direita nesta ocasião] BAR MITZWA [filho do mandato], em que o menino era considerado maior de idade e portanto filho do mandato. Desde o aniversário dos 13 anos, o menino estava sujeito aos 613 mandatos da lei e por outra parte adquiria o privilégio de ser contado entre os Minyan (literalmente número), que era o número mínimo para formar o culto na sinagoga. Muitas vezes, eram pagos porque deviam deixar o trabalho para resolver os assuntos comuns e religiosos que exigiam sua presença. Ao cumplir os 13 anos, o rapaz não é mais inocente e se torna responsável por suas ações de modo que os pais não são mais responsáveis pelos pecados de seu filho e por isso dão graças a Deus. Ele é legalmente considerado pessoa válida para contrair matrimônio segundo as leis judaicas. Segundo algumas tradições ele já é considerado adulto após dois pelos púbicos sejam observados. É bem verdade que a festa tal e como a conhecemos tem uma data inicial tardia, século XV. O primeiro Sábado que segue seu 13o aniversário é o dia de seu Bar Mitzwa. Mas antes disso o adolescente preparava-se aprendendo as noções fundamentais da história e tradições judaicas, as orações e costumes do povo, estudando os princípios que regem a fé judaica. Nesse sábado da comemoração o jovem recitava um capítulo da Torah e um capítulo dos profetas (Haftará) com a melodia tradicional para estes capítulos, baseada numa escala de notas musicais padronizadas para a leitura em público dos dois capítulos. Era chamado para recitar as bênçãos da Torah chamado em hebraico Aliyah עֲלִיָּה, do verbo alah עָלָה, que significa levantar-se, subir, ascender. A cerimônia religiosa era depois acompanhada com uma reunião festiva e familiar. Podemos dizer que era como a primeira comunhão. Escrito o original em aramaico, talvez possamos compreender que 12 e 13 se confundem e que Jesus teria os treze anos. Mas como temos visto aos 12 anos já entrava dentro dos exercícios de preparação e isso talvez seja o que Jesus disse a Maria: Devo ocupar-me das coisas de meu pai (2, 49). Os 613 mitzvot (do hebraico:תרי"ג מצוות ou Taryag mitzvot), sendo TaRYaG um acrônimo do valor numérico 613 é o nome dado ao conjunto de todos os mandamentos que de acordo com o judaísmo constam na Torah. Deles, 248 são positivos, que ordenam a realização de certas atuações e 365 sâo negativos correspondentes aos dias do ano e os 248 correspondem ao número de ossos ou órgãos importantes no corpo humano. Três dos mandamentos negativos envolvem yehareg ve’al ya’avor que significa que uma pessoa deve se deixar ser morta ao invés de violar este mandamento negativo e são assassinato, idolatria e relações proibidas. Os rabinos acrescentaram mais 7 mandamentos conhecidos como Mitzvot derabanan [mandamentos rabínicos] O Talmud calcula que o valor numérico da palavra hebraica "Torá" é 611. Portanto, os 611 mandamentos de Moisés combinados com os dois diretamente vindo de Deus somam 613.
PERDIDO: Assim, terminados os dias, ao voltarem eles, permaneceu Jesus, o menino, em Jerusalém e não conheceu Josef e a mãe dEle (43).Todavia, considerando Ele estar na caravana regressaram um caminho de um dia e o procuravam entre os familiares e os conhecidos (44). Consummatisque diebus cum redirent remansit puer Iesus in Hierusalem et non cognoverunt parentes eius. Existimantes autem illum esse in comitatu venerunt iter diei et requirebant eum inter cognatos et notos. JERUSALÉM: יְרוּשָׁלַיִם (Yerushalayim) O nome procede das palabras shalem ou shalom (שלם'), que significa paz e yeru (ירו), casa ou ciudad, pelo qual significa casa ou cidade da paz. Desde os tempos de Nosso senhor a cidade tem sido conquistada 11 vezes e destruída totalmente 5. Segundo a opinião dos arqueólogos a Jerusalém bíblica descansa sobre uma capa de entulho de 20 m de altura. É impossível reencontrar a Jerusalém de 2000 anos atrás. No ano 70 dC aconteceu o que foi escrito: Jerusalém será pisada pelos gentios até que se cumpram os tempos das nações (Lc 21, 24). Ao mesmo tempo rotularam-se todas as vizinhanças num rádio de 18 km, transformando-as num deserto calcáreo que ainda subexiste. Mais tarde os romanos destruíram totalmente os restos da cidade na rebelião de Ben Kochba. Adriano fundou sobre as ruínas uma nova cidade, Aelia Capitolina. Duzentos anos mais tarde a Imperatriz Helena buscou e encontrou o Santo Sepulcro. Em 614 foi destruída pelos persas; em 637 conquistada pelo califa Omar; em 1072 pelos seljúcitas; em 1099 pelos cruzados cristãos; em 1187 pelo sultão Saladino e em 1617 pelos turcos osmalíes; em 1917 pelo exército inglês e em 1948 foi em parte conquistada pelas tropas judias, sendo dividida em duas partes com um único acesso: a porta de Maldelbaum. Na guerra relâmpago em 1967 Jerusalém foi reconquistada pelos judios, assim permanecendo até agora. O Muro das Lamentações: É o último resto do templo destruído pelos romanos. Está composto de gigantescos silhares de até 1.80 m de altura e 11 de comprimento. Onze fileiras estão cobertas pelas ruínas, 14 ainda são visíveis. Nas sextas feiras e dias de festa, homens de longas barbas grises beijam as pedras, chorando a destruição do templo. A CARAVANA: O Sinodia grego sunodia <4923> [comitatus latino] indica um caminhar juntos, uma caravana. Caminhavam dispostos em três seções: Na vanguarda, estavam os mais jovens dispostos a repelir os bandidos com bastões e até espadas. No centro, mulheres e crianças menores de doze anos e na retaguarda os mais velhos com os meninos maiores de doze anos. Os menores de doze anos podiam pois, estar com as mulheres ou com os anciãos. Somente à noite é que os membros de uma mesma família se encontravam. Geralmente acostumavam percorrer 32 km por dia. Mas isso dependia das fontes de água. A primeira jornada era até Bet-Horom a 16 km de Jerusalém, talvez pela dificuldade de encontrar água numa outra parada. No total eram três dias até a Galiléia. Foi assim que a ausência de Jesus, só foi notada ao fim da primeira jornada. Mais um dia de volta e mais um dia até encontrá-lo no templo. No tota,l os três dias de que fala o evangelista, a não ser que o numeral seja tomado no lugar do indefinido, no lugar de adjetivos que as línguas semitas carecem, como alguns, poucos, vários, etc. de modo que o número três deixa de ser um cardinal para se transformar em plural mais ou menos indefinido. O salmo 121 é o salmo dos peregrinos quando chegam à vista de Jerusalém: Que alegria quando me disseram : Vamos para a casa do Senhor! Já estão pisando nossos pés tuas portas, Jerusalém! Entre estes salmos chamados de Graduais, que eram cantados pelos peregrinos judeus em seu caminho para Jerusalém, está o De Profundis [desde as profundezas]. Eles cantam a chegada ao templo, a recepção pelos sacerdotes que nele habitam, sua exortação sapiencial e posterior bênção. Este grupo de salmos desde o 119 ao 133 (numeração hebraica) inclui não unicamente a última etapa da peregrinação e suas emoções à vista do templo e da cidade santa, mas também todas as partes do caminho desde o início até a sua culminação. São 15 salmos de subida ou progressivos, embora seja difícil delimitar cada etapa dado que freqüentemente o acento está nas experiências pessoais, em descrições de uma circunstância especial etc. Abarcam desde as motivações e preparativos (119) até a despedida do templo para iniciar o regresso (133). Assim como o trabalho agrícola é mais agradável acompanhado de cantos, numa peregrinação até a cidade santa e o templo, de uma duração relativamente longa cantar e salmodiar é tão espontâneo como construtivo, dado que a memória de Javé o torna presente como um companheiro a mais de caminho. Assim, a saída do Egito constitui a primeira jornada. O desterro e o retorno da Babilônia nos tempos de Esdras e Neemias, a segunda jornada. A influência dos profetas que atribui a Jerusalém ser luz das gentes que se dirigem a ela como cabeça da humanidade, a terceira jornada.
A VOLTA: E não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém, procurando-o(45). Et non invenientes regressi sunt in Hierusalem requirentes eum. A volta solitária deve ter acontecido, pois a caravana prosseguiria seu lento caminhar se afastando das terras de Jerusalém. Os judeus da época estavam acostumados a dormir na intempérie para o qual escolhiam uma pedra sobre a qual reclinavam a cabeça como um travesseiro, ( Gn 28, 11), que Jesus nem isso tinha como posse própria (Mt 8, 20). Dormiam envoltos na clâmide ou manto que lhes servia de cobertor. Por isso era importante que o manto fosse devolvido antes do anoitecer ao pobre que o tinha penhorado (Ex 22, 25).
O ENCONTRO: E sucedeu após três dias, o encontraram no templo, estando sentado no meio dos mestres e escutando-os e perguntando-os (46). Et factum est post triduum invenerunt illum in templo sedentem in medio doctorum audientem illos et interrogantem. Estavam maravilhados porém todos os seus ouvintes sobre sua inteligência e suas respostas(47). Stupebant autem omnes qui eum audiebant super prudentia et responsis eius. Os três dias foram contados assim: o primeiro até Bet-horon como caminho de volta para a Galiléia, pois era a cidade de referência onde água e mantimentos podiam se comprar. O segundo de volta e o terceiro, após uma breve busca, no templo. A palavra usada por Lucas didaskalwi [didaskaloi, doctores latino] não é a usual para designar os escribas (Nomikoi ou grammateis); didáskalos é a palavra com a qual Lucas designa o próprio Jesus (15 vezes) e que as línguas modernas traduzem por doutores. Há quem considere que no templo existia uma sinagoga e que nesta se ensinava a lei aos pequenos como em todas as demais da Palestina. Pode ser. Mas também era costume ensinar aos discípulos entre as colunas do pórtico de Salomão, como Jesus tinha costume de fazer no templo: "estava sentado ensinando"(Mt 26, 55). Que os discípulos perguntassem era comum. Assim foram as perguntas dos fariseus (Mt 22, 15+), dos saduceus (Mt 22, 23 +) e do doutor da lei (Mt 22, 41+). A Rabi Hanina se atribui este ditado: "Tenho aprendido muito dos meus mestres e mais dos meus condiscípulos...Porém de meus discípulos mais do que todos". Efetivamente, na ala leste do átrio dos gentios, coberta por um teto sustentado por colunas estava o pórtico de Salomão. Eram 112 colunas em fila formando duas fileiras sobre as quais descansava um teto que protegia do sol e da chuva. No lado que dava para a torrente de Cedron um muro de contenção de aproximadamente 150 m de altura transformava o templo numa fortaleza inexpugnável. Durante as manhãs o pórtico servia de sala de aula para os diversos mestres de Israel. O muro que dava para a torrente de Cedron impedia os raios do sol nascente e era o lugar onde em semicírculo o mestre lecionava estando seus discípulos ouvindo-o de pé ou sentados modo índio, como parece que foi o caso de Jesus. Geralmente o mestre se assentava sobre uma almofada que os discípulos preparavam de antemão. Logicamente os comentários eram sobre as Escrituras, pois os judeus da época pensavam que nelas estava contida toda a ciência necessária para uma vida feliz. Dizem que o muro foi inaugurado na festa da Dedicação [hanukah] também chamada das luzes para comemorar os dois milagres que narram as crônicas hebréias: o milagre de um punhado de soldados ter sobrevivido aos ataques do poderoso Antíoco Epífanes, o selêucida, e o milagre da luz. Segundo uma tradição antiga, as luzes do menorah, o candelabro dos sete braços, tinham sido extinguidas pelo selêucida. Quando os macabeus reconquistaram o templo, eles buscaram óleo fresco, bento para reacender a chama entre as ânforas do templo, escondidas nos porões do mesmo. Porém só encontraram o suficiente para um só dia. Usaram-no para reacender o candelabro e milagrosamente ele durou 8 dias. Daí que na festa, nos dias de hoje, nas casas, eles acendem oito lâmpadas uma a cada noite para comemorar este fato, acendendo a primeira chamada shamash ou servidora e com sua luz são acesas as outras, até que todo o candelabro aparece iluminado. É o candelabro de 8 braços. Jesus durante a festa se proclamou neste pórtico como luz do mundo (Jo 10 23) e os apóstolos o usaram para pregar a boa-nova em duas ocasiões segundo o livro dos Atos: 3,11 e 5, 12. Num inciso, o evangelista declara que a presença de Jesus, perante os mestres não foi um estar passivo, mas um comparecimento ativo que deixava todos admirados tanto pelas perguntas como pelas respostas cheias de sabedoria e bom senso.
A QUEIXA: E tendo-o visto, se admiraram, e a ele sua mãe disse: Filho, por que nos fizeste assim? Eis que teu pai e eu, angustiados, te buscávamos (48). Et videntes admirati sunt et dixit mater eius ad illum fili quid fecisti nobis sic ecce pater tuus et ego dolentes quaerebamus te. São duas as afirmações deste versículo: A admiração pelo fato de ver seu filho como um discípulo aproveitado entre os maiores doutores. E depois a queixa própria da angústia de quem, sem saber nada, perdeu um filho, ainda adolescente. A queixa ocupa o primeiro lugar e merece uma resposta. Maria chama José de pai e isto é de uma importância relevante para a hagiografia de S José. Para todos os efeitos ele era verdadeiro esposo de Maria e fazia o papel de pai de Jesus. Não unicamente Maria, mas Jesus chamava de pai a José tal e como os conterrâneos o faziam (Mt 13, 55).
A RESPOSTA: E lhes disse: Já que me buscáveis, não sabíeis que nas (coisas) do meu pai devo estar? (49). E eles não compreenderam a palavra que lhes falou (50). Ait ad illos quid est quod me quaerebatis nesciebatis quia in his quae Patris mei sunt oportet me esse. Et ipsi non intellexerunt verbum quod locutus est ad illos. Temos traduzido por já que o grego oti <3754> [‘oti, visto que, porque, entanto] que une a busca com a falta de conhecimento de onde deveriam encontrá-lo. Assim a queixa de Maria se transforma em reclamação por parte de Jesus. Esse lugar era en toiv [em tois, que pode significar nas coisas, negócios; mas que tem um significado próprio de casa, domicílio ou propriedade] que devemos traduzir por casa, ou seja templo, já que o verdadeiro Pai de Jesus era Deus. Podemos pois traduzir por: a) Na casa do meu Pai. Foi a preferida pelos padres da Igreja contra os gnósticos que rejeitavam o AT e o Deus dos hebreus. Com estas palavras Jesus declara ser seu Pai o mesmo que habitava o templo de Jerusalém, ou seja Jahveh (Sl 23,6). b) Nos assuntos do meu Pai: como a vulgata traduz o texto grego. c) Entre os amigos do meu Pai, pois os pais, Maria e José o buscaram inutilmente entre os consangüíneos e conhecidos. Em definitivo: A resposta é que não era entre estes últimos mas entre os que eram amigos e conhecidos do Pai. O verdadeiramente importante era que Jesus devia amoldar sua vida às exigências de seu Pai, exatamente como o diria com toda clareza em Mt 12, 48 quando o procuram seus parentes. O evangelista comenta que Maria e José não compreenderam as palavras de Jesus. Sabiam que o verdadeiro Pai era Deus, mas por que agora se afastar deles sem dizer uma palavra para angustiá-los? A vida pública de Jesus parece iniciar-se neste momento em que as obrigações para com os pais terrenos não são suficientes para impedir seus deveres verdadeiros. A incompreensão de Maria duraria inclusive até os momentos em que Jesus toma como único dever a pregação do reino (Mt 12, 46 e Mc 3, 31).
A FAMÍLIA DE NAZARÉ: E desceu com eles e veio a Nazaré e era-lhes obediente e sua mãe guardava todas estas as palavras em seu coração(51). Et descendit cum eis et venit Nazareth et erat subditus illis et mater eius conservabat omnia verba haec in corde suo. O termo desceu é técnico como tantos outros nos evangelhos que indicam claramente a historicidade dos mesmos. Era assim que se chamava qualquer ida ao norte pois Jerusalém estava na montanha e a Galiléia, especialmente a planície do Esdrelon e as margens do lago de Genesaret estavam francamente em níveis inferiores ao da montanha da Judéia. O evangelista afirma três coisas: 1) Nazaré seria a morada durante os anos da juventude e maturidade de Jesus. 2) Jesus se comportou como verdadeiro filho na família de José/Maria ou seja em total e submissa obediência. 3) Maria retinha todas as palavras [remata indica palavras e fatos a elas relacionados] conservadas em seu coração que hoje diríamos memória.
O CRESCIMENTO: E Jesus crescia em sabedoria e estatura e graça para com Deus e os homens(52). Et Iesus proficiebat sapientia aetate et gratia apud Deum et homines. Mais do que crescer a tradução seria fazia progressos, avançava. Sabedoria sofia <4860> [sofia, sapientia] atributo próprio de Deus que governa o mundo, criado por ele e qualidade que comunica aos homens para se guiar na vida. Diferente da gnosis ou simples conhecimento, a Sofia é uma virtude prática de como se conduzir com a prudência e o discernimento que oferece a verdade última em Deus alicerçada. A hlikia <2244> [Helikia que pode ser idade ou estatura corporal]. No grego clássico é idade. Mas Lucas traz um versículo em que é francamente estatura corporal (Lc 19, 40). Graça caris <5485> [charis, gratia] graça no sentido de favor, proteção, prerrogativa de parte de Deus e dos homens. Não podemos confundir esta graça como a que foi nos tempos de Lutero ocasião de disputa com os católicos, como parte da justificação. Podemos dizer que por parte de Deus, a graça constitui o conjunto de privilégios e favores concedidos por Deus a seus eleitos. De parte dos homens, é o conjunto de qualidades que tornam um sujeito agradável, amável, digno de admiração e louvor. Pedro afirmará no seu discurso diante de Cornélio que Jesus passou fazendo o bem (At 10, 18). É por isso que os homens o admiravam e consideravam digno de encômio. É notável ver como Lucas repete em 2,52 o que tinha dito em 2,40:"O menino crescia e se fortalecia, cheio de sabedoria, e a graça de Deus estava nele". Tomando como modelo 1 Samuel 2:26: "Mas o jovem Samuel crescia em estatura e no favor do Senhor e dos homens". O único novo no Jesus de Lucas é o crescimento em sabedoria, sem dúvida uma clara conclusão de seu contato com os mestres de Israel. Porque a graça de Deus pode ser traduzida pelo "O senhor estava com ele". Graça aqui significa agrado, pois vemos como Lucas acomoda o dito de Samuel a Jesus. A medida que Jesus crescia ia mostrando com fatos a sua sabedoria e cada vez mais Deus estava com ele e os homens admiravam sua bondade de modo que mais e mais cada dia era digno da admiração e beneplácito de Deus e dos homens.

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